Margarethe von Trotta nasceu em Berlim em 1942 durante a 2ª Guerra Mundial. Iniciou sua relação com o cinema em 1967 como atriz no filme “Tränen trocknet der Wind”, de Heinz Gerhard Schier. Até 1981, atuou em cerca de 15 filmes, incluindo quatro do início da carreira de Rainer W. Fassbinder, e “A Moral de Ruth Falbfass” (1972)  e “Tiro de Misericórdia” (1976), ambos de Volker Schlöndorff, se tornando uma das atrizes de maior destaque do Novo Cinema Alemão.

Além de atriz, se torna roteirista e em 1975 tem sua primeira experiência na direção quando codirige “A Honra Perdida de Katharina Blum” com Volker Schlöndorff. Sua estréia solo como diretora acontece em 1977 com “O Segundo Despertar de Christa Klages” e a consagração pela crítica e público vem com “Os Anos de Chumbo” (1981) premiado com Leão de Ouro no Festival de Veneza.

Desde então, ao longo de mais de 40 anos, a autora construiu uma vasta e premiada filmografia na qual se destacam também os filmes “A Caminho da Loucura” (1983), “Rosa Luxemburgo” (1986), “A Promessa” (1994), “As Mulheres de Rosenstrasse” (2003) e “Hannah Arendt” (2012).

Em seu cinema destacam-se alguns dos grandes temas da vida política da Alemanha do século XX, desde a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) até a divisão do país pelo Muro de Berlim (1961-1989), sempre registrados pelo olhar sensível da diretora através das tramas protagonizadas por grandes personagens femininos.

Na sua filmografia também estão incluídas as biografias da lendária ativista política do início do século, em “Rosa Luxemburgo”, e da influente filósofa política em “Hannah Arendt”. Um episódio sobre a resistência dos alemães durante o regime nazista em “As Mulheres de Rosenstrasse”. Os anos da divisão dos alemães em dois países distintos com o Muro de Berlim em “A Promessa”. O conturbado período de radicalismo político dos anos 70 em “A Honra Perdida de uma Mulher” e “Os Anos de Chumbo” nos quais percebe-se os ecos libertários de maio 68 e o desespero dos anos de violência política e guerrilha revolucionária na Europa dos anos 70.

Um traço marcante na obra de Trotta é a forma engenhosa como a temática política serve de pano de fundo para dramas pessoais e existenciais de personagens cujos perfis psicológicos estão marcados por acontecimentos da história política da Alemanha. As conexões existentes entre crises políticas e problemas pessoais são brilhantemente entrelaçadas pelos roteiros e pela direção de Trotta. Na maioria de seus filmes os personagens principais, principalmente os femininos, estão ligados por fortes laços de amizade e de amor. A personagem que vive angustiada, para amenizar seus problemas interiores, busca o conforto, os conselhos e a compreensão com sua ligação afetiva mais íntima, geralmente uma amiga ou uma irmã. É o que sucede com Christa e Ingrid em “O Segundo Despertar”; com as irmãs Julianne e Marianne em “Os Anos de Chumbo”; com Olga e Ruth em “A Caminho da Loucura”; com Lena e Ruth em “As Mulheres de Rosenstrasse”.

As personagens principais dos filmes de Margarethe von Trotta são quase todas mulheres da geração da diretora que se conscientizaram politicamente no final dos anos 1940 e início de 1950, refletindo sobre as normas e princípios da sociedade, sobre o papel que lhes era predeterminado e rebelando-se contra este papel. São mulheres complexas e distantes do estereótipo de heroínas, mulheres que lutaram para encontrar seu próprio caminho
enfrentando um mundo hostil e essencialmente dominado pelo masculino.

A mostra O Cinema de Margarethe von Trotta propõe um olhar para filmes de sua filmografia que possibilitam a reflexão sobre ‘ser mulher’ no mais político sentido do termo, inclusive no próprio Cinema, ocupando cargos importantes como diretora e roteirista. Para tanto, haverão Encontros e Debates após as sessões, oportunidades nas quais poderemos, em conjunto, refletir sobre as temáticas e as estéticas de seus filmes, e também sobre ser mulher no processo de realização cinematográfica.

Desta forma, espera-se que esta seja não apenas uma oportunidade para difundir e estar em contato com a obra de Margarethe von Trotta, mas que represente, também, o reconhecimento da importância de seu trabalho e de sua inspiradora trajetória cinematográfica.

Lívia PerezCuradora

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