Memória e subjetividade no documentário latino-americano contemporâneo
Ao ser interrogada por seu pai sobre os objetivos de seu filme, Maria Clara Escobar, diretora de Os Dias com Ele, responde que seu documentário é uma reflexão sobre “os silêncios históricos e pessoais”. Pouco antes, a cineasta assinalava a este, o filósofo e dramaturgo Carlos Henrique Escobar, que buscava reconstruir uma memória ausente sobre a história dele, de sua família e, também, do Brasil e sua história política. Nestas duas passagens estão sintetizadas as características distintivas de uma nova forma de cinema documental que indaga as tensões entre história e memória, entre o familiar e o social, o público e o privado, o íntimo e o coletivo, através do prisma subjetivo de um autor que interpela a realidade, o passado e os outros, expondo sua voz e seu corpo em primeira pessoa.
A mostra Silêncios históricos e pessoais explora o vasto território do documentário latino-americano do século XXI a partir de uma seleção de 17 obras provenientes de Argentina, Brasil, Chile, México, Paraguai e Uruguai que dão conta da riqueza poética, estética e política daquilo que alguns teóricos denominaram “documentário performativo”. A programação ainda conta com a presença de diversos realizadores para encontros com o público e também promove uma conferência ministrada pelo pesquisador argentino Gonzalo Aguilar. (Para participar da conferência, é necessário inscrever-se até 30 de março através do e-mail conferenciasilencios@gmail.com)
A 50 anos do golpe de Estado no Brasil, (re)pensar os silêncios faz-se ainda mais necessário.